2006-05-26

Estar preparado

Há coisas para as quais estamos preparados. Há outras para as quais, pensamos estar preparados. Há no entanto outras ainda, para as quais nunca estamos preparados. Se me puser a pensar, coisa esta para a qual pensamos que estamos preparados, e se me transportar para o início de todos nós, o nascimento, não consigo saber se estávamos preparados, se pensávamos que estávamos preparados, ou se nunca estamos preparados. Todos choramos quando nascemos. Posso dizer que estava preparado para chorar, mas não! Apenas pensava que estava preparado para nascer. Onde estava o choro nisto? Os nove meses, são a média, 38 a 40 semanas é o intervalo ideal, mas podemos nascer, mais ou menos por aí! Posso dizer que estava preparado, ou então alguém achou que estava preparado, ou ainda, não estava mesmo preparado… pensava eu! Mas afinal, estava mesmo preparado. Apenas pensava que não estava preparado. Seja como for, podemos até assumir, que se nascemos e vivemos até à idade de escrever alguma coisa, é porque definitivamente estávamos preparados para nascer. E o que é feito dos que não chegaram a nascer? Estavam preparados mas… pensavam que estavam preparados mas… não estavam preparados! Consigo aceitar esta ideia, não estavam preparados. Mas porquê? Já têm tudo direitinho, aconchegadinho e com muito carinho… e muitos inhos mais! Como é possível, alguém não estar preparado? Diz aquele que eventualmente pensou alguma vez, que não estava preparado e que já escreve. Neste ponto, parece-me que já podemos falar de perda e com sentimento à mistura, algo muito mais profundo, não necessariamente mais complexo, mas, e isso sim, eventualmente inexplicável… porque com o explicável podemos todos. Afinal, o ser humano em peso, seja ele a nível individual, colectivo ou até global, passa a sua existência a tentar explicar tudo!!! Nada como nos admirarmos com a explicação que uma criança consegue arranjar ou desenrascar para tudo! E mesmo assim, querem crescer muito rápido porque já sabem tudo! Não nos vá aparecer um adulto pela frente que continua a acreditar que tem explicação para tudo… porque ainda há muito desses… sem ofensa. Temos mesmo que nos reduzir à insignificância de adulto, que já sabe ou tem a obrigação de saber, que não há explicação para tudo, e isso é que é deixar de ser criança. Naturalmente que como adulto, tenho que evitar as longas e tempestuosas idades da adolescência, onde tudo consegue ser explicável e inexplicável ao mesmo tempo!!! Estava já eu, a falar de perda e passei rapidamente para o explicável ou não. Mas, pode ser que esse sentimento de perda, também seja qualquer coisa que foi construída por nós próprios! Pois é! E se foi construído por nós, também pode ser destruído por nós… e agora acho que estou a levar-me a falar de esperança… a esperança de que conseguimos destruir o sentimento de perda por nós construído! E se é verdade, que esperança é aquele que espera, e se como adultos já percebemos que saber esperar é uma virtude, não só divina, que nos ajuda a alcançar e que como já escrevi num texto anterior, podemos e devemos aproveitar o tempo de espera para fazer alguma coisa, resta aproveitar o tempo de espera, na esperança de que o inexplicável passe de mansinho e se torne rapidamente um aliado do sentimento de perda, onde facilmente se vai diluir no estar preparado… e engolir de forma bem digestiva esta ideia! Uf!… até parece fácil!!! Não sei se hei-de lá chegar, mas “temos” que o conseguir!

4 comentários:

Anónimo disse...

Sobre ezta tua reflexão ocorre-me uma coisa sobre a qual tenho reflectido.... é que para além da paciência e do saber esperar, há outro condimento a juntar a tudo isto, a certeza do caminho que seguimos, ou pelo menos a sensação de que é por aqui que queremos ir.....

TeX

Anónimo disse...

Claro está!!!
Rui

AquiJazz disse...

Estar preparado é não se deixar vencer pelas surpresas. Espero lá chegar...

RuiRodrigues disse...

Boa cena!!!
havemos todos de lá chegar!